O projeto de lei do governo Lula (PT) sobre a regulação das big techs prevê a proibição de acesso às redes sociais antes dos 12 anos e exige que adolescentes de até 16 anos tenham contas vinculadas às de adultos responsáveis, de acordo com minuta obtida pela Folha de S.Paulo.
A proposta, elaborada pelo Ministério da Justiça, foi debatida pelo presidente com oito ministros durante reunião no Palácio do Planalto na última quarta-feira (13).
A regulamentação das big techs está no foco de Lula desde o começo do mandato, mas ganhou tração internamente depois do tarifaço imposto ao Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e do vídeo viral do influenciador Felca.
A minuta, à qual a Folha de S.Paulo teve acesso, obriga as plataformas a incluir ferramentas que permitam a mediação e a supervisão dos pais, dando a eles inclusive o poder de bloquear conteúdos ou funcionalidades nas contas dos filhos, supervisionar a interação com outros usuários e restringir o tempo de uso.
O texto proíbe o acesso de crianças (com menos de 12 anos) e diz que “contas de adolescentes com idade inferior a 16 (dezesseis) anos ou associadas a crianças ou adolescentes devem ser vinculadas nestes serviços a um adulto responsável”.
A proposta também afirma que as plataformas “devem disponibilizar ferramentas de mediação parental que limitam ou suprimam a capacidade de outros usuários se comunicarem com crianças e adolescentes”.
Pelo projeto, as redes também passariam a ser obrigadas a verificar a idade dos usuários. O Ministério da Justiça tem feito e revisado a classificação indicativa, mas, na prática, não há medidas que impeçam o acesso de crianças e jovens de idades inferiores às sugeridas.
Em junho, o Ministério da Justiça aumentou a classificação indicativa do Instagram de 14 para 16 anos. O TikTok, o Kwai e o YouTube são recomendados hoje pelo governo para maiores de 14 anos; o Facebook para maiores de 16; e o X (antigo Twitter) e o Discord para maiores de 18.
O projeto de lei propõe uma regulamentação ampla, com normas que vão desde a remuneração de criadores de conteúdo até a punição para as próprias plataformas, mas há um capítulo exclusivo sobre a proteção de crianças no ambiente digital.
A proposta também proíbe as big techs de direcionar propaganda para crianças e adolescentes a partir dos dados de uso, “com o objetivo de definir o seu perfil, com a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço”.
As redes sociais ficam proibidas ainda de exibir publicidade de armas, bebidas alcoólicas, cigarro, pornografia e jogos de apostas.
O governo vai apoiar o projeto de lei mais avançado no Congresso contra a adultização de crianças na Internet, mas pretende manter no anteprojeto do Ministério da Justiça as regras que tratam da proteção de crianças e jovens no ambiente digital.
A ideia é aguardar a aprovação do projeto em discussão na Câmara dos Deputados e enviar a proposta do Executivo de forma complementar, posteriormente, para aproveitar a mobilização causada pelo vídeo de Felca e tentar destravar uma regulamentação mais ampla.
O governo também discute uma proposta elaborada pelo Ministério da Fazenda para regulação da concorrência no setor. Entre outros pontos, a minuta prevê a criação da Superintendência de Mercados Digitais no Conselho Administrativo de Defesa Econômica, com poder de impor obrigações especiais às big techs, o que pode gerar novo embate com os Estados Unidos.