Não é preciso ir muito longe para observar humanos na natureza compartilhando algumas bebidas durante as refeições. Mas não somos os únicos. Pela primeira vez, chimpanzés selvagens foram filmados consumindo álcool juntos.
De acordo com os cientistas que documentaram as cenas, o comportamento abre a possibilidade de que os primatas —os parentes mais próximos dos humanos no reino animal— também possam usar o álcool como uma ferramenta de vínculo social.
Os ecologistas da Universidade de Exeter, na Inglaterra, acreditam que o compartilhamento de alimentos alcoólicos provavelmente seja generalizado entre os chimpanzés —e provavelmente já foi observado anteriormente sem que os pesquisadores percebessem o que estavam vendo. O motivo exato pelo qual os chimpanzés compartilham a fruta-pão com álcool para consumo ainda não é conhecido.
Ainda assim, as descobertas revisadas por pares, publicadas na revista Current Biology na segunda-feira, oferecem uma pista para outro mistério: as origens das festas regadas a álcool em humanos, levantando a ideia de que essa característica não é um desenvolvimento recente, mas está profundamente enraizada em nossa história evolutiva compartilhada com outros grandes primatas.
Os pesquisadores há muito suspeitam que a capacidade dos humanos de metabolizar o álcool poderia servir a um propósito evolutivo —uma teoria conhecida como hipótese do macaco bêbado.
Usando câmeras escondidas instaladas no Parque Nacional das Florestas de Cantanhez, na Guiné-Bissau, no oeste da África, os pesquisadores registraram chimpanzés selvagens compartilhando frutas-pão contendo etanol em 10 ocasiões —na maioria das vezes passivamente, permitindo que outro chimpanzé pegasse uma fruta-pão, uma forma de compartilhamento. Em um caso capturado pela câmera, um chimpanzé tolerou que uma fruta-pão fermentada fosse arrancada diretamente de sua boca.
Tanto o compartilhamento de alimentos quanto o consumo de álcool por chimpanzés selvagens foram observados anteriormente —mas nunca ao mesmo tempo.
Os pesquisadores mediram o teor de álcool por volume da fruta-pão, descobrindo que variava de 0,01 a 0,61 por cento. Embora isso possa parecer baixo (uma cerveja típica tem um teor alcoólico de cerca de 5 por cento), ela disse que o valor pode ser cumulativo quando consumido em grandes quantidades.
Os chimpanzés compartilham um número notável de comportamentos e características com os humanos, incluindo exibir padrões de conversação únicos, lembrar de velhos amigos depois de décadas, consolar vítimas de agressão e até mesmo passar pela menopausa.
Como os humanos, os chimpanzés evoluíram para possuir um par de enzimas que lhes permitem converter etanol em açúcar, dando-lhes assim a capacidade de consumir álcool.
A razão para essa característica permanece incerta. De acordo com os pesquisadores, existem vários benefícios possíveis para humanos e primatas festejarem com álcool coletivamente, incluindo benefícios nutricionais e sociais.