Em uma plataforma na rodoviária do Tietê, em São Paulo, passageiros aguardavam com muita expectativa na bagagem. Eles encarariam milhares de quilômetros de estrada em uma rota de ônibus que, orgulhosamente, se define como "a mais longa do mundo".
Seis mil quilômetros separam o Rio de Janeiro de Lima, no Peru.
A paradinha estratégica em São Paulo é apenas uma das 30 do roteiro, que demora cinco dias e atravessa paisagens que vão da neblina paulistana ao verde amazônico, passando pela Cordilheira dos Andes.
A Transacreana, com base em Rio Branco, é a responsável desde abril pela operação do trecho — que, no passado, entrou para o Guinness como a viagem de ônibus mais longa do mundo.
Alguns trechos da viagem, não são capazes de preparar os profissionais para os desafios impostos pelas estradas que vão até Lima, construídas em serras que castigam os motoristas com o "mal da altitude".
Cusco, no Peru, por onde o ônibus passa, fica mais de 3.300 metros acima do nível do mar, em meio aos Andes peruanos. O ar rarefeito, com menos oxigênio, causa sintomas desagradáveis como dor de cabeça, enjoo, dificuldade de respiração e fraqueza.
Outro desafio, segundo os motoristas a, é a segurança nas estradas no Peru, cheias de pontos cegos pelo relevo acidentado. É preciso abusar das buzinas nas curvas para alertar quem vem do outro lado.
Diversidade não é só uma característica do que se vê pelas janelas, mas também dos passageiros que encaram o trecho. São peruanos que querem passar uma temporada no país onde nasceram ou voltar para a terra natal e brasileiros aventureiros, com mochila nas costas.
No segundo andar do ônibus da Transacreana, os passageiros têm um filtro de água. Já o banheiro fica no térreo e conta apenas com privada e uma pia pequena. Em uma das fileiras de leitos, alguns viajantes contam com cortinas que ajudam a isolar os assentos.
Para tomar banho, só nas paradas em postos de serviço. São três por dia, para higiene e refeições.
As paradas para almoço e jantar, de cerca de uma hora, são as recomendadas pela empresa para quem quiser usar o chuveiro. Já a primeira parada do dia, para o café da manhã, é a mais apressada — dura só 30 minutos.
As viagens da Transacreana saem quinzenalmente às quintas-feiras às 13 horas do Rio, com parada em São Paulo à noite e previsão de chegada na terça-feira em Lima. O retorno de Lima ao Rio também ocorre às quintas-feiras.
A Transacreana pretende expandir, no futuro, a viagem para saídas toda semana. A passagem de ida, em preço promocional, custa R$ 1 mil.
A Rio-Lima está no Guinness World Records desde 2016 como a mais longa rota de ônibus do mundo, com 6.200 quilômetros de extensão.