A inflação na Argentina bateu um novo recorde em maio e chegou a 109% no acumulado dos últimos 12 meses, o maior valor em quase 32 anos. Para se ter uma ideia, o aumento dos preços do país em um único mês (8,4%) representa o dobro do registrado em todo o último ano no Brasil (4,2%).
Os índices de preços ao consumidor de ambos os países foram divulgados na sexta-feira (12), pelo INDEC (Instituto Nacional de Estatística e Censo) do lado argentino e pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do lado brasileiro.
O número da nação vizinha ficou acima do esperado, mesmo que as expectativas já fossem de alta em relação a março. Desde o início do ano, os argentinos convivem com uma inflação de três dígitos, o que significa que o valor do peso “derrete” rapidamente, dificultando a poupança.
Novamente, o que mais puxou os custos foram os alimentos, afetados por uma seca histórica que comprometeu praticamente metade das colheitas dos principais produtos. Roupas, restaurantes e hotéis também registraram uma alta acima da média.
A inflação do último mês também foi pressionada por uma forte corrida cambial. O dólar paralelo “blue”, que dita o dia a dia da Argentina, passou por uma escalada ininterrupta por 15 dias em maio e só baixou depois de fortes intervenções do governo peronista de esquerda de Alberto Fernández.
Antes da divulgação dos números da inflação, a Casa Rosada impôs novas restrições para compras no exterior, com o objetivo de frear a saída de dólares do país –um argentino só pode adquirir até US$ 200 (cerca de R$ 1.000) por mês oficialmente, por exemplo.
Agora, para comprar um vale-presente com cartão de crédito ou débito por meio de um site estrangeiro como a Amazon, também será preciso pedir autorização prévia do Banco Central, assim como já ocorria com joias, apostas e criptomoedas.
O país sofre com a falta da moeda americana, o que dificulta o pagamento de um empréstimo de US$ 44 bilhões contraído em 2018 com o FMI (Fundo Monetário Internacional). O governo tenta negociar os prazos de pagamento e apressar o cronograma de desembolsos do fundo, e para isso busca o apoio do Brasil e dos Estados Unidos.
A Argentina vive mergulhada em instabilidade econômica. Em 40 anos de democracia, completados neste ano, atravessou nove grandes crises, conservando até hoje o mesmo PIB per capita daquela época.
Fernández é visto como incompetente para resolver a crise, e Massa, como alguém colocado para “segurar as pontas” até as eleições de outubro, entregando o abacaxi ao próximo governo.