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A Domingueira Paquera na Praça Brasil", por Athayde Alves


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Bem à moda da época, as moças eram comportadas, a partir de seus trajes, como vestido ou saia abaixo do joelho

Foto: Reprodução
No centro da cidade uma praça. Uma praça no centro da cidade

Realidades incontestes em todas as cidades a partir de sua formação: se não uma praça no centro, infalivelmente uma igreja, ou ainda as duas juntas.

Cornélio Procópio não teve esse conjunto. A praça está no centro e a Igreja um pouco mais acima, mas incontestavelmente eram os dois grandes e únicos, locais de concentração de massa da cidade.

No logradouro, o infalível ‘footing’ dos finais de semana. Apreciar aquela procissão de gente indo e vindo era minha diversão também. Ali se via de tudo: casais de braço dado, casais em duplas, buscando ou se oferecendo e outros que ficavam postados fixamente em lugar estratégico com o intuito de ver todo mundo passar. Claro, se havia desfile teria que ter plateia. Assim era o footing na Praça Brasil nos anos 60.

Nesse vai e vem prevaleciam os sinais, facilmente entendidos entre eles. Ao passar, pretendente dele ou dela esboçava um sorriso e lançava uma piscada de olho. Era um flerte, um xaveco, sinal de paquera. Geralmente por iniciativa dele, aceno como esse era uma manifestação de pretenso namoro. Ou pelo menos chegar para “se conhecerem melhor”.

Pelo lado dela havia também um sinal de concordância ou de recusa. Se ao detectar o aceno do pretendente ela igualmente esboçasse um sorriso era sinal de consentimento e bastava colocar o dedo indicador na face do rosto, como quem estaria dizendo “estou livre”. Se não, seriam dois dedos no rosto (indicador e médio) numa demonstração de “sou comprometida”.

Era grande a população de jovens procopenses desta época que frequentava a paquera da Praça Brasil. O footing se dava exatamente no quarteirão da avenida quinze de novembro, interditado ao trânsito todas as noites de domingo. Mas também se estendia pelos arredores e círculos centrais do largo. Gente fixa, gente em movimento, cada um com seu hobby de comer pipoca, pé de moleque, cocada, algodão doce ou mascar chiclete de bola. E o movimento apertava quando terminava a ’reza’ na igreja matriz ou a sessão de cinema.         

Bem à moda da época, as moças eram comportadas, a partir de seus trajes, como vestido ou saia abaixo do joelho. Quando muito um modelo rodado com bainha de babados abaixo ou com alças acima. Nada de mostrar parte do corpo como sensualidade. Já os rapazes trajavam a moda em voga na época como camisa xadrez e calça larga com barra boca de sino. Os mais recatados ainda exibiam manga comprida e colarinho, abotoados.

Creio que todos nós lembramos de algum logradouro público da nossa cidade natal como espaço que marcou determinado momento de nossas vidas. E são muito boas (e saudáveis), essas lembranças que vêm à tona quando nos permitimos a um devaneio de uma época em que fomos protagonistas.

Hoje a estampa é completamente outra. O footing agora é de carro ou moto pelas ruas da cidade e não há mais paquera. Mas a praça continua lá, intrépida, sem ver os piscares de olhos ou sorrisos sorrateiros de ontem. Quando visitamos essas praças, como não lembrar os versos de Ronnie Von: “a mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim”.

Saudade daqueles tempos que assistiram minha juventude e contribuíram para minha envergadura. Uma noite dessas ainda hei de sentar num daqueles bancos, recatado, só no meu pensamento, para ver passar, em filme, essas emoções de outrora, que nem a velocidade do tempo há de apagar.

 

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Fonte: *Redação Cornélio Notícias, com texto enviado pelo do Departamento de Comunicação da Prefeitura
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