Uma investigação das origens do coronavírus da pandemia iniciada a pedido do senador americano Richard Burr, do partido Republicano, encontrou novas informações que corroboram a plausibilidade de um vazamento laboratorial como primeira fonte do surto.
Graças ao poliglota Toy Reid, fluente em mandarim, a comissão investigativa encontrou em fontes públicas do Partido Comunista Chinês um documento de 12 de novembro de 2019 indicando que algum incidente sério aconteceu em um laboratório do Instituto de Virologia de Wuhan (IVW). As conclusões estão num relatório preliminar das investigações.
Três especialistas independentes em comunicações das autoridades chinesas (além de Reid) foram ouvidos pela reportagem de Vanity Fair e ProPublica. Eles disseram que os despachos do IVW de fato sinalizam que o instituto passou por uma emergência intensa de segurança em novembro de 2019”, onde dizem, “foi como abrir a Caixa de Pandora”.
Os documentos não esclarecem qual dos laboratórios do IVW foi afetado. Há mais documentos, além de depoimentos de cientistas ocidentais que trabalharam no local, indicando que os virologistas do instituto trabalhavam sob uma muito intensa pressão do Partido Comunista por produtividade, um problema que já gerou fraudes em pesquisas feitas na China.
Artigos científicos de Shi Zhengli, da chefia do instituto e conhecida como “Mulher Morcego” por sua pesquisa com coleta de vírus no animal, revelam francamente que experimentos perigosos em coronavírus eram realizados em níveis de biossegurança insuficientes para os padrões internacionais.
Shi Zhengli recebeu verbas de pesquisa dos Estados Unidos por meio de uma ONG intermediária, a EcoHealth Alliance. A França também investiu no IVW após uma visita do ex-presidente Jacques Chirac em 2004, gastando 44 milhões de dólares na construção de um laboratório com o maior nível de biossegurança, o nível BSL-4, que começou a operar em 2018.
Cientistas ocidentais ouvidos revelaram que havia um problema crônico de escassez de insumos e produtos de limpeza e também falta de expertise dos chineses em conduzir um laboratório do tipo. Os chineses perguntavam aos ocidentais por e-mail, por exemplo, qual material de limpeza seria mais adequado para não corroer as paredes de aço inoxidável do laboratório.
Em novembro de 2020, sete inventores do instituto submeteram um pedido de patente para um novo desinfetante que reduziria a corrosão do aço que pode “levar ao vazamento de microrganismos altamente patogênicos para o ambiente externo ao laboratório, resultando na perda de vidas e de propriedade e sérios problemas sociais”.
Não se tem, ainda, evidência conclusiva de que a Covid-19 nasceu em um laboratório chinês. Porém, há um conjunto de indícios sugestivos: o fato de Wuhan, metrópole em que seguramente houve os primeiros surtos, conter os principais laboratórios de estudos dos coronavírus no país e no mundo.