Após três meses de preparo, no dia 20 de abril de 1925, Fawcett, seu filho Jack e um amigo desse partiram de Cuiabá para nunca mais serem localizados.
Uns dizem que o trio teria encontrado a passagem para outras dimensões; outros afirmam que os três teriam sido devorados por índios locais. Chegou-se até a especular que Fawcett teria vivido mais de três décadas "numa cidade subterrânea, escondida sob a Serra do Roncador".
Antes de desaparecer, a América do Sul já não era novidade para Fawcett que, no início do século passado, já andava por aqui pela primeira vez para demarcação de fronteiras entre o Peru e a Bolívia, a convite do Royal Geographical Institute.
Entre 1906 e 1924, foram sete viagens exploratórias na América do Sul, incluindo passagens por Corumbá, no Mato Grosso do Sul e Rio Verde, "lugar onde ninguém entrara antes", segundo o biógrafo, Hermes Leal.
Em uma de suas últimas notícias, antes de desaparecer no Brasil, Fawcett pedia para a família não enviar nenhum tipo de resgate, em caso de fracasso da expedição.
Para Leal, a corrida pelos restos mortais do coronel acabaria sendo "mais importante que a própria cidade que procurava".
David Grann, outro escritor que também se debruçou sobre a história de Fawcett, acredita que o explorador ganhou fama "não pelo que revelou ao mundo, mas pelo que escondera."
No filme “Indiana Jones e o Templo da Perdição”, de 1984, quando o intrépido protagonista sai à procura de uma pedra sagrada na Índia, Willie Scott, a cantora de boate interpretada por Kate Capshaw, vira-se para Indiana Jones, o famoso arqueólogo imortalizado por Harrison Ford, e alerta: "Você vai acabar morrendo ao perseguir fortuna e glória".
Em tom de gracejo, Indy responde: "Talvez. Mas hoje não".
É provável que Nina Paterson (1871-1954) tenha dito algo parecido quando o marido, Percival Harrison Fawcett, anunciou que ia sair em missão à procura de uma civilização perdida no Brasil, os dois se conheceram no Ceilão, atual Sri Lanka, onde Percy serviu como oficial da Artilharia Real britânica.
Ao longo das décadas, Percy Fawcett inspirou uma infinidade de personagens: do velho explorador Ridgewell, da obra Tintim e o Ídolo Roubado (1935), do quadrinista belga Hergé, ao arqueólogo com espírito aventureiro Indiana Jones, da franquia dirigida pelo cineasta americano Steven Spielberg.
"O Indiana Jones foi inspirado no protagonista de um filme de 1954 chamado O Segredo dos Incas", diz Sávio Queiroz Lima, doutorando em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e autor do artigo Arqueologia, Antropologia e História em Indiana Jones (2021).
"Tanto o Indiana Jones quanto o Harry Steele, interpretado por Charlton Heston, compartilham elementos estéticos e performáticos do Fawcett e de outros arqueólogos famosos como o escocês Mortimer Wheeler (1890-1976), o americano Junius Bolton Bird (1907-1982) e o inglês William Flinders Petrie (1853-1942)".
Para 2025, ano do centenário do misterioso desaparecimento, Hermes Leal planeja relançar O Enigma do Coronel Fawcett e estrear um documentário e uma série de ficção. Sinal de que, tão cedo, a expedição não chegará ao fim.